Descobri que era uma menina do papá no dia em que saí de casa. É engraçado como por vezes as coisas acontecem. Meu pai, apesar de homem à moda antiga, sempre teve as suas manifestações de carinho. Talvez não tão eloquentes como hoje estamos habituados, mas sempre teve momentos de partilha comigo que guardo até hoje. Era um homem de voz alta e temperamento forte e rápido, há quem diga que eu saio a ele, que gostava do seu conforto e das suas coisas, que detestava mudanças de rotina, e que adorava que o deixassem sossegado. Com ele aprendi o gosto pelos livros, lembro-me de o ver a ler pequenos livros de histórias de comboys vezes sem conta. Como ele aprendi a devorar filmes, embora se conte pelos dedos as vezes que me lembro de o ver no cinema. Nasci já ele tinha 46 anos e por isso muitas das coisas sei de ouvir contar. De como gostava de ir à bola a torres vedras, de como ia de bicicleta ao cinema, de como dançava bem. ....
Criámos os nossos momentos. Quando era miúda ia com ele ao fim de semana ajudar nos trabalhos de electricidade, e a minha paga era invariavelmente um sumol de ananás. Foi aqui que aprendi a adorar caracóis, a vê-lo beber cerveja, caneca, e a perceber que um trabalho bem feito deve ser a nossa recompensa.
E tínhamos a bola. Tínhamos discussões acaloradas acerca da qualidade dos jogadores do Benfica, do treinador, de como tinha sido justa ou injusta a vitória. E invariavelmente ligava-me no fim de cada jogo, para dar os parabéns ou para dizer : não fiques triste filha. Sempre!
E descobri que era uma menina do papa quando no dia em que depois de jantar em casa dos pais disse "bem, hoje já vou dormir a minha casa!" a resposta dele foi "hoje é o dia mais triste da minha vida".
E nunca duvidei de quanto ele me amava ou tinha orgulho em mim!
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